Para mim é extremamente difícil tocar nesse assunto pois é um relato do pior dia da minha vida, tive que ser mais forte do que eu jamais fui, tomar decisões, e passei por uma aflição muito grande.
Como já contei no meu relato de parto, Christian nasceu super saudável, com 3,400kg e 49,5cm. Foi o dia mais feliz da minha vida,isso nada poderia mudar,mas o Hospital Samaritano de Sorocaba quase acabou com toda essa alegria.
Para que entendam melhor, eu não tinha plano de saúde durante a gravidez então fiz tudo no particular, consultas,exames, e claro, parto também, tudo pago ao hospital.
A chateação começou logo cedo, chegando para a cirurgia passei por uns exames antes e a enfermeira já me avisou "Só que eu não tenho quarto para você ficar." fiquei indignada e disse "Como não? Está agendado desde Sexta (era uma terça-feira)! Paguei tudo já!"... E ela já passou a bola dizendo "Bom vou deixar para a enfermeira da manhã cuidar disso".
E lá fui eu para a enfermaria sem saber aonde iria ficar depois da cirurgia! Como eu queria ser barraqueira nessas horas viu, sou super tímida e quieta,deveria ter feito um escândalo, não só nessa hora mas em muitas a seguir. Logo veio a tal enfermeira e disse que conseguiu um quarto para mim, como se fosse uma heroína, na verdade ela não fez mais que a obrigação.
Pois bem, tive meu parto,foi tudo maravilhoso e perfeito. Me levaram para a sala de recuperação, e passados alguns minutos a faxineira do hospital veio me perguntar POR QUÊ O MEU BEBÊ ESTAVA SOZINHO! Sim,ele estava sozinho no berçário, e eu sem saber de nada! Então ela me trouxe ele e deixou do meu lado (graças a Deus pelo menos uma pessoa que me fez bem naquele hospital!)... Fiquei sózinha durante toda a recuperação com meu filho, ele chorava e eu não podia fazer nada, nenhuma enfermeira para me auxiliar e eu totalmente anestesiada. Fiquei lá por HORAS até que preparassem meu quarto, meu bebezinho doido para mamar,fazendo movimento com a boquinha e ninguém para dar ele pra mim, só ouvia as enfermeiras conversando longe sobre facebook,encomenda de doces,picuinhas etc...
Isso foi só o começo.
Subimos para o quarto, recebemos as primeiras visitas,até aí tudo bem,o Hospital tinha uma política de permitir 4 visitantes de cada vez, e no começo foi assim, um descia outro subia... Mas no final do dia eles perderam o controle e deixaram, pasmem, DOZE PESSOAS no meu quarto, eu recém operada, ainda não tinha nem tomado banho e deixaram aquela galera lá dentro, sem controle nenhum de visitação, absurdo.
A amamentação foi outro cúmulo, o Chris já tinha nascido a umas 6h e nada de me darem ele para mamar, eu não sabia,nunca tinha feito isso na vida, e ninguém para me auxiliar...
Todo mundo sabe que quem toma anestesia não pode ficar muito sentada senão dá enxaqueca, e horas após o parto as enfermeiras deixaram minha cama quase sentada, e comecei a ter dor de cabeça forte, minha MÃE teve que arrumar a cama e deitar de novo para mim.
Estava muito calor de Janeiro, eu suada,cansada,cheia de visitas,não vinham nem trocar o recipiente da sonda,uma hora ficou tão cheio que começou a vazar,minha irmã de 12 anos que teve que chamar alguém para trocar! E o banho que nunca vinha, meu parto foi as 7:00 da manhã, deu 18h, 20h, 23h e nada! Quase meia noite veio uma enfermeira "cheia de boa vontade" e disse: "Você consegue vir sozinha?" e eu tonta, levantei sozinha e fui para o banho sem ajuda. Para não dizer que ela não fez nada, me deu o shampoo e o condicionador e ajudou a secar minhas pernas depois. Só isso, fiquei por conta mesmo.
Assim passou o primeiro dia.
No segundo dia ocorreram outros absurdos, chovia muito e tinha uma goteira dentro do banheiro bem em cima do vaso, então quando eu queria ir ao banheiro meu marido tinha que ir junto (deixando o bebê sozinho no quarto) e ficar com a mão estendida coletando a água de caia para não cair em cima de mim!
As enfermeiras entravam nos piores horários para fazer coisas que poderiam ser feitas outra hora como por exemplo pesar o bebê ás 2h da manhã quando tínhamos acabado de fazer ele dormir.
Outro fato foi que em um momento minha mãe notou um copo com remédio que não foi dado a mim, perguntou ao enfermeiro e ele disse "Era para ela mesmo,devem ter esquecido de dar!".
O quarto não tinha cama para acompanhante (sendo que paguei por quarto particular com acompanhante), só um sofá velho quase sem estofamento, a cama que eu ficava era extremamente alta,quase impossível se uma pessoa recém-operada subir e descer.
Eu estava exausta, queria vir para casa. Chegou o terceiro dia, graças a Deus viria para casa! Logo cedo meu GO foi lá e deixou minha alta, só faltava a alta do Christian. É aqui que o pesadelo começa.
Ao meio dia, eu já de alta, chegou a pediatra para ver se meu filho poderia ter alta, ele estava muito bem,lindo e saudável, mas ela achou ele "amarelinho" e pediu um exame de Icterícia, e já avisou que dependendo do nível teria que ficar mais 2-3 dias internado. Congelei,tremi,morri de medo disso acontecer.
Levaram meu pequeno para o exame, horas depois o resultado saiu, e uma enfermeira chegou e me disse secamente "Deu alto o exame ele vai ter que ficar mais uns dias, o seu marido pode ir lá na tesouraria acertar os valores."
Caí no choro, e até agora é bem difícil falar sobre isso,volta tudo em mim mas acho que é importante deixar isso relatado como alerta para todas mães.
Naquele momento tive que perder a timidez e disse "Por favor pede para a pediatra subir aqui quero falar com ela, tirar algumas dúvidas". Passaram-se uns 40min e a enfermeira voltou dizendo que a pediatra não subiria mais naquele dia, se quisesse teria que descer e falar com ela. A B S U R D O!
Meu marido desceu falar com ela, perguntou o nível da Icterícia e se não haveria uma forma de leva-lo para casa e fazer banho de sol, como acontece na maioria dos casos. A respostinha dela foi essa "Se fosse no RIO eu deixava porquê lá tem sol todo dia!" disse a "pediatra" em um dia que fazia mais de 30 graus em Sorocaba.
Liguei para minha mãe que foi correndo lá pois quando minha irmã nasceu teve icterícia MUITO mais alta que a do Chris (ficou amarelona e o Chris estava imperceptível) e levou ela para casa, inclusive foi no mesmo hospital. A diferença era que ela ia pelo plano de saúde e eu particular. Ficou muito óbvio que o que queriam era que eu pagasse mais alguns dias de internação.
Tudo bem, aceitei o tratamento se fosse o melhor para o meu filho ficaria lá mais alguns dias, logo trouxeram o bercinho de fototerapia para o quarto e ligaram.
Veio um enfermeiro,pegou meu pequeno e passou uma simples fita envolta dos olhinhos dele (algo que no primeiro chorinho dele caía!) pois a luz da máquina pode cegar. Meu filho correu o risco de ter a visão prejudicada pois caiu diversas vezes, graças a Deus só quando ele estava fora do berço de fototerapia.
Colocou ele lá, e ele ficou quietinho por alguns minutos, quando começou um choro forte, desesperador, minha mãe tirou ele de lá, e a surpresa: ELE ESTAVA FERVENDO!
Muito muito quente! Colocamos a mão dentro do berço e estava pelando!
Tiramos ele e chamamos uma enfermeira,disse ser assim mesmo, que era para ficar "tirando e colocando ele" para não queimar, É BRINCADEIRA?
Eu disse a ela que queria ir embora, não ia deixar meu filinho recém-nascido em uma máquina tão quente sendo que o tratamento poderia ser feito em banho de sol, ela me disse que se fizesse isso estaria "evadindo".
Me senti uma refém em cárcere privado, não podia tomar a decisão do que fazer com o meu filho.
Não deixamos ele na máquina, ficou comigo, pedi para falar com alguém da administração, e ninguém veio, expliquei para outro enfermeiro o caso e ele disse que iria chamar a equipe técnica para averiguar o berço.
Chegaram os técnicos e me informaram que a máquina não poderia ter sido ligada sem o ar-condicionado que teria que ficar pelo menos na temperatura 26.
Foram embora e eu sózinha preparei tudo, liguei o ar (que só chegava no 29 no mínimo!) liguei a máquina, esperei para ver se não ia esquentar e coloquei ele de novo.
Minha mãe chegou e disse para eu descansar um pouco que ia ficar olhando ele. Alguns minutos e o choro terrível de novo.
Ela colocou meu filho em cima de mim e meu Deus, estava QUEIMANDO, como se tivessem passado ferro quente nele.
Liguei para o meu marido, e tomamos a decisão "Vamos tirar ele daquele açougue HOJE".
Chamei um outro enfermeiro que mediu a temperatura de dentro do berço, estava QUARENTA GRAUS, ele também constatou que o ar-condicionado estava com defeito. Não havia nenhuma outra máquina de fototerapia disponível no hospital. Era deixar meu filho queimar e cozinha dentro daquela ou "evadir" o hospital. A alta não ia vir.
Em uma última tentativa chamei a enfermeira-chefe que me sugeriu trocar de quarto para um em que o ar funcionasse. Minha mãe indagou "E vão ficar fazendo experiência no bebê??" tentar ver se a máquina não ia esquentar, me poupe!
Ah, não posso esquecer que a temperatura corporal do meu filho que tinha sido de 36,5 nos 2 dias subiu para 37,5 após ser colocado no berço.
Isso já era quase 8h da noite e eu de alta a 4h morrendo de dor,sem medicamentos! Quando disse que estava com dor insuportável, a enfermeira disse que "Ia ver o que podia fazer pois você já está de alta!".
Chega, informei que queria fazer o tratamento com um pediatra de minha confiança, fora daquele "hospital". A enfermeira disse que eu poderia fazer uma "alta-requerida" . Meu marido descreveu todo o absurdo em um papel, escreveu que iria levar o nosso filho a um lugar de confiança e por isso estávamos indo embora mesmo sem a alta.
Pronto, que alegria MEU DEUS!
Todo o sonho de tirar ele do hospital com a saída de maternidade, no bebê-conforto, feliz, fazer fotos, foi tudo por água abaixo. Não deu tempo de trazer nada daquilo naquela correria terrível, estávamos todos com os rostos inchados e tanto stress e choro, não tinha como tirar fotos. Na verdade não queria nem lembrar mais desse dia.
Viemos para casa, tomei um bom banho enquanto a minha amada mãe deu banho no meu filho, fomos para a cama, amamentei e dormimos.
Quando acordei de madrugada para dar mama,sentei no meu sofá,com meu filho no colo (ar-condicionado funcionando! rs), foi sim o melhor momento da minha vida! Saber que o pesadelo tinha acabado, que ele estava em segurança.
Marquei consulta para o Christian com 10 dias de vida, e antes disso conforme orientação de pediatra, demos banho de sol todos os dias.
Na primeira consulta com o pedi (Dr. Rubens Gurgel, um anjo!) ele viu o Chris sem roupinha e as palavras exatas dele foram "Icterícia você esquece,não tem nada!".
Desculpem o longo relato, mas estes fatos não podem ficar sem serem ditos, fica um grande alerta para mães de Sorocaba e de todo o país.
Um mês após o ocorrido sai a notícia que um bebezinho morreu dentro dessa máquina aqui em Sorocaba mesmo (a notícia está aqui: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/533037/mae-questiona-morte-do-filho-apos-tratamento-de-fototerapia). Corremos o mesmo risco!
A Icterícia têm que ser tratada SIM principalmente com níveis altos (o que não era o caso do meu filho) mas as mães têm que ficar atentas o tempo todo para a temperatura da máquina!
Os enfermeiros tiveram a cara de pau de escrever nos prontuários (que pegamos a cópia de tudo!) que EVADIMOS com o RN sendo que na verdade fizemos alta-requerida que eles e nós temos cópia. Não digo para todas fazerem isso, existem hospital muito sério e competentes (o que não é o caso do Samaritano de Sorocaba) que fazem este tratamento com segurança e tranquilidade, mas como podem ver para nós foi risco de vida.
Quase que tudo vira pesadelo, mas Deus nos deus forças para enfrentar tudo, como já diz o ditado "O que não te mata fortalece", me tornei uma mulher muito mais forte depois de tudo,faria tudo de novo se fosse preciso.
Infelizmente neste país nem pagando temos um serviço de qualidade, é a triste realidade.